Um dos carros mais marcantes da Volkswagen, a Kombi nasceu de um desenho simples e que conquistou o mundo pela sua versatilidade. Apelidada de muitos nomes ao redor do mundo, a saudosa Kombi tem um legado histórico também no Brasil, onde foi fabricada até 2013. Vamos relembrar um pouco da história da velha senhora e ver o que a Volkswagen nos reserva para o futuro.
Sotaque holandês
Talvez muitos não saibam, mas as primeiras ideias da Kombi vieram das pranchetas do holandês que era importador oficial dos veículos da Volkswagen em seu país. Em conjunto com um engenheiro alemão – Alfred Haesner – e de um oficial inglês – Major Ivan Hirst, encarregado da produção – os primeiros esboços da perua mais famosa do mundo começaram a tomar forma.
Os primeiros traços do modelo foram desenhados em Wolfsburg, na Alemanha, logo após a Segunda Guerra Mundial. Mas por conta do conflito, a fábrica da Volkswagen estava em parte destruída pelos bombardeios. A ideia original era ter um veículo que suportasse até 800 kg de carga – com passageiros – e que usasse uma plataforma simples e de custo baixo para ser amplamente fabricado em larga escala.
Os primeiros testes com uma plataforma derivada do Fusca não deram tão certo, por conta dos altos custos e por não ser tão flexível quanto eles precisavam. A solução foi criar uma estrutura monobloco para enfim dar uma base a Kombi. O primeiro motor disponível vinha do Fusca e era um boxer de 4 cilindros que rendia 25 cv e 6,8 kgfm de força.
O nome Kombi, como conhecemos atualmente, é uma abreviação de Kombinationsfahrzeug ou Kombinationskraftwagen, termos que em alemão significam veículo combinado ou combinação do espaço para carga e passageiros — o segundo designa, genericamente, as peruas atuais. Fora o nome Kombi, a perua ainda receberia várias outras nomenclaturas no decorrer de sua vida, e atualmente é conhecida por Transporter ou Bulli dependendo da região da Europa.
Kombi à brasileira
A Kombi, assim como seu irmão o Fusca, chegou por aqui na década de 1950. Antes de ser fabricada no país, a Kombi era importada e montada pelo grupo Brasmotor, que era representante oficial da Chrysler e dono da Brastemp. A perua começou a ser fabricada no Brasil de fato em junho de 1957, enquanto que o Fusca viria em 1959, sendo fabricado na planta de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
A princípio, a nacionalização do projeto era de 50% – o que quer dizer que metade do trabalho já vinha pronto e o restante era feito por aqui. E no início as vendas não foram tão bem quanto a Volkswagen desejava. A perua, que tinha um visual estranho, motor muito mais barulhento do que o do Fusca e altura em relação ao solo maior que os modelos nacionais, assustava um pouco os primeiros interessados na velha senhora.
Mas em contrapartida, ela era super espaçosa, muito prática e ainda muito simples de ser manobrada, apesar do seu tamanho. As primeiras unidades podiam carregar até 9 passageiros, ou ainda muita carga, uma vez que as fileiras de bancos poderiam ser removidas. Outro destaque para convencer as pessoas a comprarem a Kombi, era o fato do motor ser tão simples quanto o do Fusca. Isso significava que a manutenção seria barata e qualquer mecânico que já viu um Fusca, saberia lidar com a Kombi.
Por falar na motorização, as primeiras versões da Kombi vendidas por aqui utilizavam o mesmo conjunto da versão alemã. O motor em questão era o 1.2 litro que rendia 30 cv e 7,7 kgfm de torque. O câmbio era de 4 velocidades – sendo a primeira não sincronizada. As primeiras versões vendidas por aqui foram a Básica e depois Especial – que mais tarde viria a se chamar Luxo – com acabamento mais aprimorado.
Antes de se tornar 100% nacional, a Kombi ganhou as ruas em diversos tipos de carroceria. A própria Volkswagen ou preparadoras nacionais, transformavam a perua em diversos modelos. Alguns dos mais famosos foram ambulância, carro de polícia, carro-bar, carro de camping, furgão para prisioneiros e carro de lotação – que era utilizado por hotéis, táxis e empresas aéreas.
Uma inédita versão picape da Kombi surgiu em 1967, cerca de 10 anos depois da sua nacionalização. A caçamba da picape oferecia 5m² de área útil e ainda oferecia soluções inteligentes, como tampas laterais que também se abriam e um compartimento inferior. Agora o motor era o 1.5 litro de 44 cv e 10,1 kgfm – que também estava nas versões furgão e Standart. Outra mudança na nacionalização foi o aumento de carga suportado pela perua, que agora chegava a 845 kg.
Já nos anos 1970, um bloqueio de diferencial era oferecido, ajudando assim a Kombi a ter melhor tração em pisos escorregadios ou muito lamacentos. Já para 1976, a nossa Kombi ganhava as mesmas alterações que a sua versão europeia que agora atendia pelo nome de T2. Na motorização, a Kombi ganhava o 1.6 litro vindo da Brasília que rendia 52 cv e 10,1 kgfm de torque.
Já para os anos 1980, a Kombi ganhava na versão picape uma inédita cabine dupla, e uma versão a diesel, que ficou pouco tempo no mercado, por conta de alguns problemas de durabilidade. Já nos anos 1990 a Kombi ganhava algumas novidades.
Dentre elas podemos destacar o visual que não seria mexido de forma drástica até o fim de sua vida, além de outros itens como teto elevado em 11 cm, além da porta lateral corrediça e janelas maiores e com sistema de corrediças.
A Kombi e os anos 2000
Diferentemente do Fusca que ficou entre nós até meados de 1996, a Kombi estendeu sua vida por aqui até 2013. Mas antes de contar como foram seus dias de aposentadoria, vamos falar um pouco das novidades que a perua recebeu nos anos 2000.
Pra começar, a Volkswagen deixou de oferecer o antigo motor refrigerado a ar – no estilo boxer – e passou a adotar um motor flex para a perua por conta de novas regras de emissão de poluentes. O motor escolhido era o 1.4 da família EA111 – que era o mesmo da linha 1.0 e 1.6 do Fox, mas nesse caso era o da versão de exportação.
Com esse novo motor, a velha senhora agora tinha 78 cv com gasolina e 80 cv com álcool e o torque agora era de 12,5 kgfm para a gasolina e 12,7 kgfm para o álcool. Mas antes de encerrar completamente as versões com motores a ar, a Volkswagen lançou a versão de despedida Série Prata, que foi limitada a 200 unidades para enfim dar cabo a esse motor.
Depois da Série Prata, a saga de séries especiais havia dado seu início. Em 2007, a perua completava 50 anos – começou a ser fabricada por aqui em 1957 – e o modelo usava um esquema de cores que remetia as versões clássicas com o conceito de saia e blusa. E seu último suspiro de vida aconteceu em 2013, quando a saudosa perua saiu de linha.
O fim de uma era
Devido a mudanças nas normas de emissão de ruído e uma legislação de segurança, que entraria em vigor em 2014 que tornaria obrigatório os carros nacionais e importados a virem de série com airbags e freios ABS de fábrica, colocou um ponto final a história da Kombi por aqui.
Sendo assim, a Volkswagen criou a versão Last Edition, que era limitada a 600 unidades e marcava o fim de uma era. O modelo vinha com uma pintura especial no estilo saia e blusa nas cores branco e azul, além de outros itens icônicos da perua, como os pneus com faixa branca, cortinas nas janelas com o nome bordado, bancos de vinil em dois tons.
No interior, o painel trazia uma plaqueta numerada e o comprador ainda ganhava um certificado de autenticidade para guardar de recordação. Apenas o preço não era condizente com a versão de despedida. Na época, o valor pedido pela versão especial era de R$ 85 mil, mas atualmente em sites e lojas de usados é facilmente encontrada por cerca de R$ 62 mil.
Kombi elétrica?
Se por aqui a Velha Senhora saiu de linha em 2013 devido a pouca segurança oferecida e motores movidos a gasolina ou álcool, a Volkswagen já planeja um futuro 100% elétrico para a Kombi – ao menos num futuro não tão distante.
Na Europa a sucessora da Kombi, a Transporter, ou T6 como é chamada terá a companhia em breve de uma versão 100% elétrica que será batizada de ID. Buzz. O conceito foi apresentado em 2017 durante o Salão do Automóvel de Detroit, com dois motores elétricos – um montado na frente e outro atrás que juntos são capazes de fornecer 369 cv e ainda ter uma autonomia de 435 km, com apenas uma carga.
A ideia da Volkswagen é criar uma linha completa de modelos elétricos, que vão começar pelo ID.3 – um hatch médio de porte do Golf – que será apresentado em breve e ter além dele, um SUV, um sedã e uma perua – a ID Buzz. Segundo a marca, o ID. Buzz fará o 0 a 100 km/h em apenas 5 segundos e terá ainda opção de condução autônoma. Nada mal para a neta da Velha Senhora.
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