Carros inesquecíveis

Fiat Uno, um divisor de águas no Brasil

Fiat Uno Mille (divulgação)

Com a importante missão de substituir o mal recebido 147, a Fiat recorreu ao estúdio ItalDesign de Giorgetto Giugiaro para criar seu novo rebento, o Uno. O modelo, que foi de grande importância tanto na Europa quanto por aqui, ajudou a Fiat fincar seu pé no Brasil e além disso construir uma família e atravessar décadas em produção. Vamos relembrar um pouco da história desse modelo tão importante na história do automóvel no país.

147 – O início

O primeiro Fiat nacional estreou em 1976 com sua produção deixando o ABC paulista para optar por Betim, na Grande Belo Horizonte. O modelo também foi o primeiro veículo a ter motor transversal e um parente direto, o italiano 127. A apresentação oficial aconteceu durante o Salão do Automóvel de São Paulo do mesmo ano, e a marca teve respostas positivas a respeito do seu primeiro projeto.

Fiat 147 (divulgação)

As soluções adotadas também serviriam de inspiração para o futuro sucessor, o Uno como a boa oferta de espaço interno e praticidade ao se guiar em grandes cidades. O Fiat 147 tinha 3,63 metros de comprimento e pesava 800 kg – era 40 cm menor que um Volkswagen Fusca. Sua distância entre eixos também ficava bem aquém daquela do VW, 2,22 ante 2,40 m.

Fiat 147 picape (divulgação)

Depois da sua criação, a Fiat viu oportunidade de criar uma família baseada no 147. Dele nasceram a picape em 1978, que podia levar até 450 kg na caçamba, e depois a família cresceu com a vinda da perua Panorama em 1980 e um sedã, o Oggi em 1983 – um ano antes da chegada do Fiat Uno.

Fiat Oggi (divulgação)

Mas o começo não foi fácil para a marca italiana. Seus carros, embora de concepção mais avançada que muitos concorrentes, tinham fama de serem pouco resistentes e ruins de guiar, além de não terem seus atributos valorizados pelos consumidores da época. Mas a Fiat não desistiu e preparou sua grande jogada no país em 1984.

Fiat Uno

Como dissemos na introdução do texto, o Fiat Uno chegou por aqui com a importante missão de suceder o famoso 147, e para isso a Fiat usou todos seus recursos para criar um modelo que impactasse o mercado. A marca não economizou na época e fez a apresentação à imprensa num lugar inusitado, o Cabo Canaveral – Flórida, Estados Unidos – importante base de lançamentos de foguetes da NASA.

Fiat Uno Mille (divulgação)

A ideia era que o lançamento fosse tão estratosférico quanto o dos foguetes. E a ideia funcionou inicialmente: em 1986, por exemplo, a marca vendeu mais de 100 mil veículos pela primeira vez.

Fiat Uno (divulgação)

Embora herdasse alguns conceitos do 147, o Uno era um projeto muito superior. O modelo foi o primeiro a dispensar as calhas o que melhorava sua aerodinâmica e reduzia o ruído interno. O compacto possuía um painel amplo e bem organizado com aletas próximas ao volante para não distrair o motorista. Mesmo medindo 3,64 metros de comprimento e tinha 1,43 metros de altura, era um campeão de aproveitamento de espaço.

Fiat Uno (divulgação)

No início, a Fiat oferecia 3 tipos de motorização para o Uno: uma de 903 cm³ que rendia 45 cv, uma de 1.116 cm³ que rendia 55 cv e a última de 1.301 cm³ com 68 cv e 10,2 kgfm de torque. Ele trazia motor transversal, tração dianteira e suspensão McPherson com mola helicoidal à frente. Na traseira era usado eixo de torção, também com mola helicoidal, em vez do sistema McPherson com feixe de molas semielípticas do 127 – primo europeu do 147 nacional.

Fiat Prêmio (divulgação)

O primeiro fruto dessa nova família apareceria em 1985 quando a Fiat introduziu o sedã Prêmio, que diferentemente do sedã derivado do 147 – Oggi – era mais harmônico e ainda teve opção de 4 portas. Além do visual mais acertado, o Fiat Prêmio ainda trazia um inédito motor 1.5, que dava mais fôlego ao pequeno sedã.

Fiat Uno 1.5R (divulgação)

A segunda novidade – essa muito querida por muitos brasileiros até hoje – foi o Uno 1.5R, que como o nome sugere, vinha com um motor 1.5 que rendia 86 cavalos, e tinha um visual bem esportivo e atraente. De acordo com várias revistas da época do seu lançamento – 1987 – o Uno 1.5R era um dos melhores carros esportivos nacionais que o dinheiro podia comprar. Era barato de se manter e ainda oferecia acertos de carros mais caros.

Fiat Elba (divulgação)

Uma versão perua, a Elba, também foi apresentada em 1986, que mais tarde seria substituída pela Palio Weekend. A perua também começou a sua vida com apenas duas portas, mas conforme os anos foram passando, a Fiat adicionou mais duas portas para deixar o acesso mais fácil aos passageiros. Já para 1988, a Fiat apresentava o Fiorino – versão furgão e picape – que chegava para substituir a picape e furgão derivados do 147.

Fiat Uno Turbo (divulgação)

Já nos anos 1990, a Fiat precisou mexer novamente na linha Uno para se adequar às novas normas de emissão de poluentes e taxas tributárias – que ficavam menores para carros com motores de até 1.0 litro. Foi assim que em apenas 18 meses a marca apresentou um novo motor de 994 cm³ que rendia apenas 48 cv.

Fiat Uno Turbo (divulgação)

Foi também nos anos 1990 que o Uno ganhava seus primeiros retoques visuais, abandonando os grandes faróis quadrados e trocando eles por versões menores e mais retangulares. Também foi nessa época que ele ganhou seu primeiro sobrenome que anos mais tarde passaria a ser nome próprio: Uno Mille – em referência ao motor “mil”.

Fiat Uno Mille (divulgação)

Em 1994, a Fiat apresentava o novo Uno Turbo, que agora usava um motor 1.4 que rendia 118 cv e 17,5 kgfm de torque e ainda fazia com que o pequeno alcançasse a velocidade máxima de 195 km/h e fazia o 0 a 100 km/h em apenas 9,2 segundos – número bem expressivo para um esportivo nacional dos anos 1990.

Fiat Uno Mille (divulgação)

Os anos 90 foram muito proveitosos para a linha Uno, pelo menos até 1996, quando a Fiat tentou substituí-lo ao criar o Palio. Mas as boas vendas do Uno fizeram a marca mantê-lo no mercado.

Fiat Palio (divulgação)

Já nos anos 2000, a Fiat já tinha a linha Palio consolidada, e restavam apenas as versões de entrada do Uno, que agora atendia por Mille, e que tinha até recebido motor flex e uma inédita versão aventureira a fim de ajudar nas vendas.

Quadrado arredondado

Com dois produtos envelhecidos, a Fiat resolveu repensar o Uno, mas com uma proposta nacional. Nascia daí o Novo Uno em 2010 sob uma nova linguagem visual apelidada de “rounded square” – quadrado arredondado – que agora usava a mesma plataforma do novo Palio. Nessa segunda geração, o modelo ganhou motores mais modernos como o 1.0 Fire e o 1.4 que ajudaram a popularizar o pequeno.

Fiat Uno (divulgação)

A marca foi esperta em tornar o carrinho bastante lúdico e para isso disponibilizou inúmeras combinações de acessórios que a marca disponibilizava para garantir que nenhum modelo sairia da loja igual ao outro – o que de fato não chegou a acontecer. Nessa segunda geração o modelo chegou a receber 3 facelifts, além de uma inédita versão com câmbio automatizado GSR controlado por botões, além de itens que o primeiro Uno nunca sonhou em ter, como controle de tração e estabilidade.

Fiat Uno Sporting (divulgação)

No entanto, o advento do programa Inovar Auto, que exigia investimentos em segurança, obrigou a Fiat a aposentar o Mille, o primeiro Uno mesmo com o modelo ainda tendo boa aceitação. Ao mesmo tempo, a marca começou a pensar num produto de entrada já que o Novo Uno perdeu logo seu poder de atração.

Fiat Mobi (divulgação)

Foi quando o irmão caçula Mobi, que usa a plataforma encurtada do Uno/Palio, surgiu para enfrentar o subcompacto da Volkswagen o Up!. E com ele, o Uno passou a atuar numa faixa de preços mais alta onde não voltou a ser sombra do que foi no passado.

Fiat Uno (divulgação)

Atualmente é possível encontrar o Uno disponível no site da Fiat com preços que partem de R$ 44.590 na versão Attractive 1.0 flex de 4 portas e podem chegar até R$ 52.990 reais na versão Way com motor 1.3 de 109 cv no etanol e 101 cv na gasolina.