Sem sombra de dúvidas, um dos carros mais famosos da Ford, o Corcel é um dos carros mais conhecidos da marca. O projeto que era derivado da época que a Ford detinha o controle da Willys-Overland, rendeu um carro que conquistou milhões. Inspirando até nomes de cantoras pop. Vamos relembrar alguns fatos, curiosidades e um pouco da história desse valente carro.
Renault Gordini / 12
Mesmo tendo sido lançado cerca de um ano depois da variante brasileira, não podemos deixar passar – a breve – história do Renault 12 ou Gordini. O projeto criado pela Renault, atendia pelo nome de “Projeto M” e tinha um desenho levemente diferente do nosso Corcel.
Enquanto o nosso Corcel tinha visual mais inspirado em modelos maiores da Ford, o Renault Gordini tinha visual mais arredondado, mas suas formas gerais – carroceria, interior e alguns detalhes – permaneciam idênticos nos dois projetos. Na Europa, o compacto vinha com motor 1.3 litro que rendia 60 cv e vinha em duas opções de carroceria: sedã de 4 portas, ou perua de também 4 portas.
Por aqui, tivemos acesso apenas ao sedã de 4 portas, a perua de 4 portas do Corcel foi descartada. Além do motor 1.3, a Renault disponibilizava também um motor 1.6 que entregava 125 cv e vinha com freios a disco nas quatro rodas e podia alcançar os 185 km/h. O sedã e a perua foram líderes de mercado na França em 1974, e sua carreira durou até meados de 1980, quando teve sua produção encerrada, depois de mais de 2 milhões de unidades produzidas.
Ford Corcel I – 1968 a 1977
Como dissemos acima, o Ford Corcel nasceu por aqui em setembro de 1968 – cerca de um ano antes da produção oficial do Renault Gordini. Mas a história mesmo começa cerca de um ano antes, em 1967, quando a Ford assume o controle acionário da Willys-Overland do Brasil. E já que a Willys estava projetando um novo veículo em parceria com a Renault, a Ford acabou por ficar com esse projeto.
Derivado do projeto “M”, o Ford Corcel dividia a mesma plataforma e linhas da carroceria com o Renault Gordini. Mas diferentemente do primo europeu que teve só dois tipos de carroceria, o Corcel veio a princípio na carroceria sedã de 4 portas, mas também ganhou uma versão de 2 portas, além de uma perua de duas portas – na Europa eram 4 – e futuramente uma picape – a Ford Pampa.
Para dar mais personalidade ao modelo, a Ford investiu no visual do Corcel que pegou alguns traços do Maverick, trazendo ao Corcel personalidade e estilo mais distante do Renault. A dianteira usava uma grade retangular, enquanto que os faróis eram redondos e grandes, coisa que só veríamos tempos depois no Chevrolet Opala. Já a traseira tinha lanternas pequenas e retangulares, que davam um charme a traseira.
Debaixo do capô, a primeira geração do Corcel vinha com o mesmo motor 1.3 do Renault Gordini, mas com 68 cv brutos – como eram chamados à época. Além do motor mais potente, o Ford Corcel ainda trazia novidades na sua construção, como a coluna de direção bipartida e circuito selado de arrefecimento: o líquido expandia-se para um reservatório, em vez de evaporar para a atmosfera, o que evitava perdas e frequentes reposições (segundo a fábrica, seria trocado só a cada 30 mil quilômetros).
O espaço interno era bom para até 5 pessoas, e tinha materiais de boa qualidade. Com esses predicados, o Ford Corcel logo caiu nas graças do público, já vendendo logo no primeiro mês 4.500 unidades, e cerca de 50 mil unidades no seu primeiro ano de vida.
Já em 1970, a Ford apresenta a versão perua que por aqui ficou conhecida como Belina. Que diferentemente da versão europeia vinha apenas com configuração de 2 portas, ao invés de 4 portas. Com essa linha a Ford estabeleceu um novo patamar para carros compactos, pois o Corcel 1 era silencioso, confortável e extremamente econômico. O Corcel 1 conseguia alcançar a velocidade máxima de 130 km/h e fazer o 0 a 100 em 23,6 segundos.
A primeira vez a gente nunca esquece
Mas como nem tudo são flores, a linha Corcel 1 teve alguns problemas sérios de qualidade de construção o que resultou no primeiro e maior recall do país. Cerca de 65 mil unidades – sedã de quatro portas, cupê e perua – foram chamados para fazer reparos gratuitos e assim a confiança na marca foi reforçada novamente.
Para organizar melhor a casa, a Ford contratou um novo presidente em 1970, Joseph W. O’Neill que além de colocar em prática o primeiro recall que se tem notícia no país, reestruturou a Ford e aumentou os níveis de qualidades para todos os produtos à venda no Brasil.
Corcel GT
Em 1971, a Ford apresentava a esperada versão esportiva do Corcel – a GT. Nesta versão, o Corcel ganhava o motor com 80 cv e ainda podia atingir a velocidade máxima de 138 km/h. Em termos estéticos, o Corcel GT vinha com teto de vinil, rodas com desenho esportivo e faixas pretas no capô e nas laterais.
O conforto era palavra de ordem na linha e mesmo na versão cupê, era possível levar quatro ou até cinco passageiros sem passar por nenhum aperto. Alinhando assim desempenho e conforto tanto para o motorista, quanto para os passageiros.
Botox
Já para 1973, a linha Corcel ganhava uma pequena alteração no visual. Além de ter um design um pouco mais agressivo – agora lembrando um pouco mais o Mustang – o Corcel também ganhava nova motorização. Sai de cena o motor 1.3 litro e entra no lugar um novo motor 1.4 litro com cerca de 75 cv na versão normal e com 85 cv na versão mais potente a GT.
Na traseira a maior mudança era a troca das lanternas que deixam de ser duplas e retangulares e passam a ser retilíneas e únicas. No caso do Ford Corcel 1 GT, agora ele recebia duas faixas pretas sob o capô, que reforçava ainda mais a esportividade do modelo. A primeira geração do Ford Corcel I foi sem dúvidas uma das mais bem-sucedidas da história da marca no país, com mais de 650 mil unidades vendidas em todas as carrocerias disponíveis.
Curiosidades
Antes de trocar de “geração” o Ford Corcel ganhou uma versão chamada Bino – que não é cilada – que na verdade homenageava o famoso piloto brasileiro que morreu nas 24 Horas de Le Mans em 1963, Christian “Bino” Heins. Apresentado em 1969 o Corcel Bino vinha com um kit de preparação com um novo comando de válvulas, um novo cabeçote, novas taxas de compressão para o motor e um escapamento Kadron de maior vazão.
O motor passava de 1.3 litro para 1.4 litro e a potência também subia, saem de cena os 68 cavalos da versão mais pacata do cupê e entra em cena 90 cavalos, que reforçavam a ideia do modelo esportivo.
Além dessa versão, foi cogitado também uma versão conversível para o Corcel, que foi esboçado pelo designer da Ford Paulo Roberto, que conferiu ao modelo linhas esportivas. A versão em si nunca saiu de fato da fábrica da Ford, mas algumas pequenas empresas de modificação, como a Sonnervig que também trabalha como revendedora dos modelos Ford, pôs em prática os esboços e construiu algumas unidades, se baseando na versão cupê do modelo de 1968.
Ford Corcel II – 1977 a 1991
A “segunda geração” mantinha a mesma plataforma do Corcel I, porém a carroceria ganhava linhas mais retilíneas, além de novidades na dianteira e na traseira. Nesta época além das mudanças estéticas, o Corcel perdia a versão sedã de 4 portas – carroceria de 2 portas eram muito mais populares no final dos anos 1970 e início dos 1980.
As linhas gerais do Corcel 2 eram mais retilíneas e condizentes com as propostas apresentadas pelos concorrentes. Saem de cena os faróis redondos e entram no lugar faróis maiores e retangulares, com uma grade maior e toda filetada com o logo da Ford ao centro. A traseira do Corcel 2 ganhava lanternas maiores e que tinham mais presença junto da tampa do porta malas.
O design do sedã de duas portas era mais esportivo e lembrava muito o desenho do Mustang fastback. Além da versão sedã de duas portas, a perua Belina também recebeu as mesmas alterações na carroceria. O interior também ganhava novidades, e era considerado pela imprensa especializada como um dos mais belos e mais bem-acabados do segmento.
Já para os anos 1980, a Ford apresentava uma versão de entrada da linha Corcel, o Hobby. Esta versão tinha um apelo mais jovial e tirava os frisos laterais cromados e da dianteira. Em seu interior, o Corcel II Hobby contava com acabamento em preto e vermelho e um novo volante mais esportivo do que o convencional. A perua Belina agora vinha apenas com o motor 1.6, ao invés do motor mais fraco o 1.4.
Lana Del Rey
Em 1981 a linha Corcel II ganhava uma nova versão de luxo que inspirou uma cantora famosa. O nome da versão seria Del Rey que a diferenciava das demais versões tradicionais do Corcel II.
O Ford Corcel Del Rey – que mais tarde passou a atender apenas por Del Rey – vinha nas configurações sedã de 2 ou 4 portas, além da perua Belina de 2 portas. No visual, a linha Del Rey contava com nova grade dianteira, além de novas rodas de liga leve e novos itens de série que até então não eram muito comuns.
Entre estes itens podemos destacar, vidros elétricos com comandos na porta do motorista, ar condicionado integrado ao painel e teto solar poderiam ser encontrados nos Del Rey. O painel de instrumentos contava também com conta giros, manômetro de óleo e voltímetro.
Em 1983, a linha Del Rey ganhava um novo câmbio automático de 4 velocidades, além de melhorias no acabamento interno. Para 1985, a linha Del Rey recebia novidades discretas no visual, que os manteriam até o final da linha, já perto dos anos 1990.
Ford Pampa
Além da versão de luxo – Del Rey – o Corcel II ainda gerou um novo rebento. Criado para alinhar conforto e praticidade, o Ford Pampa foi apresentado em 1982 e aproveitava a plataforma do Corcel II para baratear os custos. A caçamba podia levar 600 kg, graças a maior distância entre eixos da picape.
A picape concorria com nomes de peso como a Chevrolet Chevy 500 – derivada do Chevette – além da Volkswagen Saveiro e da Fiat 147 pick up. Em 1984, tanto a linha Pampa, quanto a linha Corcel e Del Rey ganhavam o novo motor CHT, que era compartilhado com o Ford Escort.
A sigla em inglês para câmara de alta turbulência disfarçava o fato de ser uma evolução do conhecido motor do Corcel II, retrabalhado nas câmaras de combustão para melhor desempenho e menor consumo. O motor tinha 1.6 litro e desenvolvia 63 cv e 10,3 kgfm de torque.
Ainda em 1984, a Ford Pampa ganhava um sistema de tração 4×4 que também era compartilhado com a perua Belina. Era um sistema simples, porém, não muito prático, o que ajudou a versão a amargar as vendas.
Então, o fim.
A linha Corcel ficou em vigor até 21 de julho de 1986 – depois de mais de 1,4 milhão de unidades produzidas – deixando apenas a linha Del Rey e Pampa por mais alguns anos ainda. Em 1987, a linha Del Rey ganhava uma linha de entrada L para ficar no lugar do antigo Corcel. A linha de 1989 trazia já alguns frutos da era da Autolatina para o Del Rey e Pampa.
Agora os modelos ganhavam na versão topo de linha o motor 1.8 de origem Volkswagen, enquanto que o Gol recebia o motor 1.6 CHT – que era mais moderno e econômico que o 1.6 de origem Volkswagen. A linha Del Rey foi substituída em 1991, com a chegada do Versailles – um Volkswagen Santana com logos e acabamento Ford.
Já a picape Pampa resistiu até meados de 1997, quando a Ford a substituiu pela picape derivada do Fiesta, a Courier. Mas podemos dizer com certeza que o Corcel e sua família conseguiram atender bem todos os tipos de famílias brasileiras, nos seus quase 30 anos de vida.
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